quinta-feira, 4 de março de 2010

PINGOS DE ORVALHO

Amo
como jamais um sonhador amou.
Sonho
como jamais um amante sonhou.

Sinto
um desejo imenso
de beber
os encantos da noite...
Embriagado,
esquecerei o rosto misterioso.
Só assim,
fugirei desta irresistível música.

Mas,
impossível é beber tais encantos!
Das mãos da saudade,
recebo uma taça,
contendo
pingos de orvalho.
Bebo-a com gesto desesprado
e, estonteado,
valso com a lua.

Quando volto à realidade,
a noite me envolve com braços de encantamento,
mas,
mesmo assim,
aumenta dentro do peito o desalento.

Você que ouviu meu silêncio,
agora ouça meu lamento:
Amo alguém que vi um dia
e, até hoje,
sua imagem sedutora
arrasta-me para os becos da nostalgia.

É tão triste amar uma desconhecida!
Nem mesmo seu nome eu sei.
Daquele rosto lindo,
conheço
apenas o sorriso.
Prometo um céu todo de estrelas se ela aparecer.
Ah, se ela pudesse me ouvir neste momento!...

De taça em taça,
bebo
a embriaguez dos pingos de orvalho.

Escuridão na alma:
agora, nem mais a lua me acompanha;
valso
sozinho
e desolado
na sombra das nuvens.
Não há no mundo desilusão tamanha!

Você que me aplaude ou censura,
que chora comigo
ou ri do meu pranto,
talvez
seja você
a mulher que tanto amo!

Você também
não escapa das carícias da noite,
mesmo estando nos braços de outro.
E se despreza meus sentimentos,
se riu de minha insuportável dor,
há-de
sentir
remorso,
há-de
chorar
a falta de amor.

Lá bem longe, muito longe,
o mar respinga os amantes na avenida...
Aqui,
uma lembrança atormenta minha vida...

Você que ouve este desabafo,
se conhece a mulher que amo,
fale-lhe do meu sofrimento.
Se ela não estiver
sendo seduzida pela noite,
ou por outro homem,
se ainda pode amar,
diga-lhe que venha me aquecer.

Mas,
se a mulher que tanto amo
é você,
por todo o pranto que chorei,
tente me socorrer.

Venha
beber na mesma taça
que a saudade oferece.

Venha para os meus braços
de onde você jamais sairá.

Juntos,
beberemos
os pingos de orvalho.

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(Fpolis, noite de quinta-feira, 01/08/74.
Atualizado em 15/01/89
Revisado em 08/07/05)

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Este poema é o título de um quadro de poesias,
no programa Rádio Saudade, às 21,
na Rádio Cambirela - Virtual, mas real.
PINGOS DE ORVALHO,
amor e sensibilidade na noite.
www.RADIOCAMBIRELA.com.br

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