domingo, 30 de junho de 2013

CAFÉ DA TARDE

Baby Espíndola

Quando as gaivotas desenham montanhas e canoas,
em vôos rasantes sobre as águas da Lagoa...
Quando a lua cheia enche de mistério
os desenhos e labirintos das teias de aranha,
que brotam dos bilros das rendeiras...
Quando teu corpo delicado e carinhoso
estremece de frio,
ao final de uma tarde preguiçosa...

Então, é hora de te abraçar sem pressa,
para te proteger dos ventos uivantes do sul.

Entre um café e um doce,
te dedicarei cento e cinqüenta beijos.
E bem mais tarde,
à sombra de outros telhados,
recordaremos do café do fim de tarde,
das garças brancas,
que demarcam os barrancos da Lagoa.

E como esquecer dos teus gestos delicados,
dos carinhos picantes,
da voz melodiosa, às vezes lamentosa,
da tranqüilidade,
das horas que correram desapercebidas.

Nunca mais esquecerei das dunas brancas,
que inutilmente tentam se proteger dos ventos.
E quando a noite apagou o dia
e multiplicou lâmpadas de mil cores nas encostas,
morcegos e tantos pássaros noturnos
tomaram de assalto nossos sonhos,
e cantarolaram uma música triste,
que fala de despedida,
que faz do tempo um vilão impiedoso.

Tu nem sabes – mas eu revelo agora –,
enquanto te abraçava,
no fim da tarde fria
de um sábado diferente de outro qualquer,
não significavas, naquele momento mágico,
apenas mais uma mulher.
Te reconheci como alguém muito especial,
uma sereia,
que brotou do fundo das águas
e veio se aquecer na areia.

Uma mulher mágica,
que me ferve o sangue
e me transforma num vulcão animal,
indomável como cavalo selvagem,
que corria solto nos campos da infância.

Desde aquele por do sol,
o café do fim de tarde
se revestiu de uma simbologia especial.
O suco quente tem o prazer
que guardas no fundo do corpo sedutor.
O aroma, que exala da xícara,
tem o teu cheiro,
que me envenena
e me torna, a cada dia,
mais e mais dependente do teu amor.

Então, eu fiz uma promessa,
que não pretendo esquecer,
até porque tinha, por testemunhas,
as dunas da Lagoa:
Desde agora, até o crepúsculo da vida,
o teu café quente, no final das tardes frias,
temperado com gotas de sonhos,
está garantido em testamento,
mesmo que, num certo momento,
falte água ou mesmo o vento
deixe de soprar.

O teu café da tarde,
agora é um ritual sagrado,
conquistado por merecimento,
depois de tantas horas de mansidão
e paz de espírito,
gestos capazes de causar inveja
até mesmo aos envelhecidos deuses do Olimpo.

O teu café do fim de tarde
é especial,
porque adoçado com o mel da tua boca.
O teu café da tarde
sempre brotou do teu sorriso atrevido
e escorreu pelas curvas do teu corpo,
ondulações de pecado,
que a natureza desenhou, de propósito,
só pra me deixar estonteado.

Confesso... Eu também quero
tomar do teu café da tarde,
olhando o revoar das gaivotas,
espreitando as sombras,
que nascem nas cavernas das montanhas
e enfeitiçam a alma.
E depois do café,
te levarei pela mão,
a um ninho de flores e encantos,
muito mais pecaminoso
que o lendário paraíso.

Quando as gaivotas desenham
montanhas e canoas,
em vôos rasantes sobre as águas da Lagoa...
Quando a lua cheia enche de mistério
os desenhos e labirintos das teias de aranha,
que brotam dos bilros das rendeiras...
Quando teu corpo delicado 
estremece de frio,
ao final de uma tarde preguiçosa...
É hora de te abraçar sem pressa,
para te proteger dos ventos uivantes do sul.

Entre um café e um doce,
te dedicarei cento e cinqüenta beijos.
E bem mais tarde,
à sombra de outros telhados,
recordaremos do café do fim de tarde,
das garças brancas,
que demarcam os barrancos da Lagoa.

E como esquecer dos teus gestos delicados,
dos carinhos picantes,
da voz melodiosa, às vezes lamentosa,
da tranqüilidade,
das horas que correram desapercebidas.

Nunca mais esquecerei das dunas brancas,
que inutilmente tentam se proteger dos ventos.
E quando a noite apagou o dia
e multiplicou lâmpadas de mil cores nas encostas,
morcegos e outros pássaros noturnos
tomaram de assalto nossos sonhos,
e cantarolaram uma música triste,
que fala de despedida,
que faz do tempo um vilão impiedoso.

Tu nem sabes – mas eu revelo agora –,
enquanto te abraçava,
no fim da tarde fria
de um sábado diferente de outro qualquer,
não eras para mim,
apenas mais uma mulher,
mas alguém muito especial,
uma sereia,
que brotou do fundo das águas
e veio se aquecer na areia.

Uma mulher mágica,
que me ferve o sangue
e me transforma num vulcão animal,
indomável como cavalo selvagem
dos campos da infância.

Desde aquele por do sol,
o café do fim de tarde
se revestiu de uma simbologia especial.
O suco quente tem o prazer
que guardas no fundo do corpo sedutor.
O aroma, que exala da xícara,
tem o teu cheiro,
que me envenena
e me torna, a cada dia,
mais e mais dependente do teu amor.

Então, eu fiz uma promessa,
que não pretendo esquecer,
até porque tinha, por testemunhas,
as dunas da Lagoa:
Desde agora, até o crepúsculo da vida,
o teu café quente,
no final das tardes frias,
temperado com gotas de sonhos,
está garantido em testamento,
mesmo que, num certo momento,
falte água
ou mesmo o vento deixe de soprar.

O teu café da tarde,
agora é um ritual sagrado,
conquistado por merecimento,
depois de tantas horas de mansidão
e paz de espírito,
gestos capazes de causar inveja
até mesmo aos envelhecidos deuses.

O teu café do fim de tarde
é especial,
porque adoçado com o mel da tua boca.
O teu café da tarde
sempre brotou do teu sorriso atrevido
e escorreu pelas curvas do teu corpo,
ondulações de pecado
que a natureza desenhou, de propósito,
só pra me deixar estonteado.

Confesso... Eu também quero
tomar do teu café da tarde,
olhando o revoar das gaivotas,
espreitando as sombras,
que nascem nas cavernas das montanhas
e enfeitiçam a alma.
E depois do café,
te levarei pela mão,
a um ninho de flores e encantos, 
muito mais pecaminoso
que o lendário paraíso.


Florianópolis, Lagoa da Conceição
Sábado, 12/07/03.


sábado, 29 de junho de 2013

FLOR DE PESSEGUEIRO





Baby Espíndola

Outra vez é agosto...

E só porque é agosto,
brota, no ramo aparentemente inerte,
a flor de pessegueiro.
Desprotegida,
sem uma única folha
a lhe proteger do sol ardente,
ou do orvalho gélido
(: lágrima de frente-fria),
a flor, genitora do fruto futuro,
divinamente desenhada
com a cor maravilhosa
das rosas cor-de-rosa,
exibe-se, atrevida,
ao azul mais azul
dos céus ainda de inverno,
envolta pelos ventos do campo.

Beija-flor enamorado,
abelhas da indústria do mel,
canarinhos do peito amarelo,
borboletas esvoaçantes,
descendentes das asas
da infância de menino do sítio,
todos, todos festejam
a triunfal chegada
da flor de pessegueiro.

Olhos solitários de homem calado
também acompanharam,
passo a passo,
minuto a minuto, minuciosamente,
a metamorfose do ramo seco
(ou aparentemente seco),
que tingiu-se de róseo.

É outra vez agosto...
É tempo de flor de pessegueiro,
por sobre os vestígios da solidão.

É pena,
não estás no campo orvalhado,
nas manhãs frias que adivinham o sol,
para colher,
com a esperança das flores rosadas,
os frutos do meu amor,
toneladas e toneladas de carinho,
que a vida inteira guardei
e guardarei para te oferecer.

E eu não tenho:
o mel da tua boca,
as carícias das tuas mãos,
pétalas sedutoras;
a expressiva cor dos teus olhos,
a sombra dos teus cabelos,
o perfume do teu corpo tentador.

Envolto pelo véu frio do campo,
com os ventos assoviando canções
de violinos selvagens,
choro chuvas dos olhos,
porque a solidão é um chacal,
farejando a desolação da alma.

Outra vez é agosto...

Desalentado, constato
a imensidão da solidão,
pois tenho tão-somente
as flores do pessegueiro,
que, sem a vida da tua presença,
traduzem canções de desespero.

Agosto/94 - Junho/95