Baby Espíndola
Outra
vez é agosto...
E
só porque é agosto,
brota,
no ramo aparentemente inerte,
a
flor de pessegueiro.
Desprotegida,
sem
uma única folha
a
lhe proteger do sol ardente,
ou
do orvalho gélido
(:
lágrima de frente-fria),
a
flor, genitora do fruto futuro,
divinamente
desenhada
com
a cor maravilhosa
das
rosas cor-de-rosa,
exibe-se,
atrevida,
ao
azul mais azul
dos
céus ainda de inverno,
envolta
pelos ventos do campo.
Beija-flor
enamorado,
abelhas
da indústria do mel,
canarinhos
do peito amarelo,
borboletas
esvoaçantes,
descendentes
das asas
da
infância de menino do sítio,
todos,
todos festejam
a
triunfal chegada
da
flor de pessegueiro.
Olhos
solitários de homem calado
também
acompanharam,
passo
a passo,
minuto
a minuto, minuciosamente,
a
metamorfose do ramo seco
(ou
aparentemente seco),
que
tingiu-se de róseo.
É
outra vez agosto...
É
tempo de flor de pessegueiro,
por
sobre os vestígios da solidão.
É
pena,
não
estás no campo orvalhado,
nas
manhãs frias que adivinham o sol,
para
colher,
com
a esperança das flores rosadas,
os
frutos do meu amor,
toneladas
e toneladas de carinho,
que
a vida inteira guardei
e
guardarei para te oferecer.
E
eu não tenho:
o
mel da tua boca,
as
carícias das tuas mãos,
pétalas
sedutoras;
a
expressiva cor dos teus olhos,
a
sombra dos teus cabelos,
o
perfume do teu corpo tentador.
Envolto
pelo véu frio do campo,
com
os ventos assoviando canções
de
violinos selvagens,
choro
chuvas dos olhos,
porque
a solidão é um chacal,
farejando
a desolação da alma.
Outra
vez é agosto...
Desalentado,
constato
a
imensidão da solidão,
pois
tenho tão-somente
as
flores do pessegueiro,
que,
sem a vida da tua presença,
traduzem
canções de desespero.
Agosto/94
- Junho/95
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