sábado, 29 de junho de 2013

FLOR DE PESSEGUEIRO





Baby Espíndola

Outra vez é agosto...

E só porque é agosto,
brota, no ramo aparentemente inerte,
a flor de pessegueiro.
Desprotegida,
sem uma única folha
a lhe proteger do sol ardente,
ou do orvalho gélido
(: lágrima de frente-fria),
a flor, genitora do fruto futuro,
divinamente desenhada
com a cor maravilhosa
das rosas cor-de-rosa,
exibe-se, atrevida,
ao azul mais azul
dos céus ainda de inverno,
envolta pelos ventos do campo.

Beija-flor enamorado,
abelhas da indústria do mel,
canarinhos do peito amarelo,
borboletas esvoaçantes,
descendentes das asas
da infância de menino do sítio,
todos, todos festejam
a triunfal chegada
da flor de pessegueiro.

Olhos solitários de homem calado
também acompanharam,
passo a passo,
minuto a minuto, minuciosamente,
a metamorfose do ramo seco
(ou aparentemente seco),
que tingiu-se de róseo.

É outra vez agosto...
É tempo de flor de pessegueiro,
por sobre os vestígios da solidão.

É pena,
não estás no campo orvalhado,
nas manhãs frias que adivinham o sol,
para colher,
com a esperança das flores rosadas,
os frutos do meu amor,
toneladas e toneladas de carinho,
que a vida inteira guardei
e guardarei para te oferecer.

E eu não tenho:
o mel da tua boca,
as carícias das tuas mãos,
pétalas sedutoras;
a expressiva cor dos teus olhos,
a sombra dos teus cabelos,
o perfume do teu corpo tentador.

Envolto pelo véu frio do campo,
com os ventos assoviando canções
de violinos selvagens,
choro chuvas dos olhos,
porque a solidão é um chacal,
farejando a desolação da alma.

Outra vez é agosto...

Desalentado, constato
a imensidão da solidão,
pois tenho tão-somente
as flores do pessegueiro,
que, sem a vida da tua presença,
traduzem canções de desespero.

Agosto/94 - Junho/95


Nenhum comentário:

Postar um comentário