terça-feira, 2 de março de 2010

AS CANÇÕES QUE O POVO NÃO CANTA MAIS

São as canções dos ventos da liberdade,
são os ecos das vozes que silenciaram
por falta de auditório.

As canções
que o povo não canta mais,
estão no choro da criança
que não nasceu;
na sombra da árvore
que não brotou da terra-mãe;
no mar sem praia;
na lagoa sem água;
no pássaro de asas de sonho;
na cor da flor que murchou.

As lutas e batalhas pela terra,
o direito sagrado de respirar o verde,
o pulmão adoentado,
a tosse: tambor sem ritmo,
a mãe sem filho,
o homem sem horizonte:
Tudo isto, são filosofias
das canções que o povo não canta mais.

Porque o povo tem medo,
porque há fantasmas invisíveis
habitando almas.
Porque há asfaltos
que rasgam véus de saudade
e há destinos sem futuro.
Porque o golpe da enxada sobre a terra
não é festejado,
o arado custa muito dinheiro,
e os grãos envenenam os passarinhos.

Por tudo isso,
não há mais canção para se cantar.
Porque ninguém pratica verbos de amor,
ninguém fala predicativos de solidariedade.

Morreram os espantalhos
das roças de trigo, soja, arroz e milho,
os insetos multiplicaram-se impunemente.
E a desilusão
escancara sua boca ao mundo
e ameaça engolir a esperança.

Não há mais canção
para se cantar,
porque nas cidades
as rimas terminam em sangue
e os campos apagaram os vaga-lumes.

Não há mais canção para se cantar,
porque atropelaram o respeito
e os ratos roeram o amor.

Não há mais canção para se cantar
porque a criança não tem mais pão,
porque, nos esgotos da vida,
escorre inutilmente o suor do trabalhador.

Não há mais canção para se cantar,
porque a fé despencou do telhado do céu.


(Baby Espíndola)
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São José - 09/07/98

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