quarta-feira, 15 de junho de 2011

CANÇÃO DO SOLITÁRIO


Não ouço os padres,
porque muitos enlouqueceram
falando do Divino.
Não ouço os decoradores de bíblias,
que falam de um Deus vingativo.
Então me escondo em minha fé
que, ingênua e romântica,
procura só parábolas de amor,
um amor de resignação.
Não ouço os bêbados,
porque eles fedem, chatos,
nos milhares de botequins.
Dos fanáticos do futebol,
não escuto o grito de gol
e os muitos insultos aos árbitros
e suas injuriadas mães.
De algumas mulheres
– ah! que saudade
das verdadeiras mulheres! –
só ouço vulgaridades
das bocas que cheiram álcool
e xepa de cigarro.
Os amigos não têm mais tempo
para conversas da vida.
Alguns só falam com o médico,
se intoxicam com remédios;
outros correm ao advogado,
outros, tantos outros,
só se ocupam com eletrodomésticos.
Deixam a poesia morrer,
deixaram a filosofia apodrecer.
Isolado, solitário, magoado,
pela existência de tanta estupidez,
percorro mundos sobre rodas,
engolindo asfalto
e sufocando o desencanto.
Sempre que aqui ou ali eu paro,
converso calado com as pedras,
que revelam segredos do mar.
Dos passarinhos cantadores,
que voam em volta dos ninhos,
me embriago com seus hinos.
Nas asas das gaivotas,
centenárias pescadoras,
desenho poesias aos ventos.
Montando canoas nas ondas,
deslizo verbos de encantos.
Na lembrança dos teus olhos,
vejo filmes do passado,
alguns tristes de lágrimas,
outros de felicidade.
Na sombra imaginária dos teus cabelos
– que a noite tenta imitar,
quando as estrelas vão dormir,
atrás das folhas das nuvens –,
repouso e adormeço,
pensando que estás comigo
e que me chamas baixinho.
Mas, estás ausente,
não sei onde,
e isso aumenta o desespero
e a vontade de cavalgar asfalto
montando cavalo de aço.
Meu combustível
é a perseverante vontade
de um dia te encontrar.


{São José, 26 / 01 / 98}


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