quinta-feira, 1 de abril de 2010

AQUELE NAVIO QUE TE CHAMA SOU EU

Uma cobra de asfalto,
serpenteando entre campos
e ondulantes montanhas,
te levou para muito longe,
para além do alcance do olhar,
onde se abraçam o rio e o mar.

Além do horizonte,
muito, muito longe!,
mais distante que a saudade,
num bairro de cães vadios,
um telhado de limo vela o teu sono,
enquanto outro homem,
embriagado pelos teus encantos,
compartilha dos teus sonhos.

No bairro de ventos uivantes,
violentando a madrugada,
navios de muitas bandeiras,
inclusive a brasileira,
derramam marinheiros no porto,
que respinga melancolia
e desalentado desespero.

Mulher!... Mulher que eu amei
em silêncio,
dentre todos os navios que choram,
que gemem na escuridão do porto,
o apito mais lamentoso
é o meu grito de amor,
o eco de um profundo sentimento.

Aquele navio que te chama,
na barra do grande rio,
antes de partir,
a caminho do desconhecido...
Aquele navio que te chama
sou eu.

Aquela luz muito distante,
trêmula, quase apagada
pela falta da energia do teu corpo,
é a luz dos meus olhos,
que de saudade choram
lágrimas sofridas,
que se misturam
aos respingos do mar e às gotas de sereno.
Da mesma maneira,
aquele marinheiro solitário,
perdido nas cavernas da noite,
também sou eu.

E aquela folha, caída ao mar,
navegando, tonta, com os ventos,
é uma carta silenciosa,
que jamais escrevi,
falando do meu amor impossível.

Em verdade,
sem o teu amor,
sou um barco sem bússola,
perdido no mar da vida
e sem porto para ancorar.
Sou o pássaro noturno,
que canta e te chama,
mas não sabe onde te encontrar.

Mulher mil vezes querida,
se, na velhice da noite
ou na infância da madrugada,
o sono te fugir sorrateiro,
fecha os olhos,
para ver o filme das nossas vidas...
E então recordarás alguns bons momentos,
que juntos passamos.

Mas, se um navio choroso apitar,
com sofrida insistência,
vá até a janela,
e aproveita para namorar a lua cheia
e deixa teu olhar navegar no tempo,
até cruzar com as âncoras do sofrimento
do homem solitário,
que te amou – e ainda te ama! – intensamente!

Mulher sonhadora,
mas capaz de atrevido abandono,
preste atenção...
Aquele navio que te chama,
com lágrimas
e saudades...
Aquele navio que te chama
sou eu!
O apito suplicante,
prolongado e assustador
é o meu grito, há anos sufocado,
o gemido da solidão.

(BabyEspíndola)

Um comentário:

  1. Baby,

    Ouvi o som do teu gemido e vim te escutar mais de perto. Amei as tuas letras e te faço companhia. Quem sabe, as nossas vozes, juntas, aumentem o volume dos nossos gritos e desviem a rota dos nossos afetos...

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