quinta-feira, 1 de abril de 2010

CRISTO DOS DESAMPARADOS

Oh, Cristo dos desamparados e dos aflitos,
quero te revelar
na condição de filho em espírito
- aquilo que bem sabes -,
que estão a me perseguir.
Usam de todos os argumentos
para me derrubar moralmente,
e aguardam a minha queda
como a cobra ultra-venenosa
que corre do local da picada,
porque a vítima poderá tombar
sobre seu corpo esguio e peçonhento.
Usam até manobras judiciais,
com argumentos mesquinhos e torpes.
Massacram os meus passos
e eu não tenho a quem recorrer,
ninguém para lavar os meus pés cansados.
Cospem no meu rosto
e jamais alguém oferecerá os cabelos
para enxugar a humilhação,
nem irá orar pelo meu padecimento.
Colocam aos meus ombros exaustos
a cruz da vida,
e me deixam quase sem saída.
Preciso encontrar, imediatamente,
a Tua porta, Cristo dos desamparados!
Jogam sal nas minhas feridas
e riem do meu pranto.
Tenho sede,
sede de compreensão e de amor
e ninguém me oferece
a água que alivia a dor.
Amotinados, me atacam pelas costas,
com gestos covardes.
Dilaceram os alicerces materiais
que me sustentam
e tentam denegrir minhas convicções,
que confesso, já não são muitas,
pois que minhas reservas estão se esgotando.
Perseguido, humilhado,
bem sei, cometo erros graves,
erros do desespero,
que somente Tú, Cristo dos desamparados,
poderás entender e perdoar.
Poucos são os instantes de total lucidez,
como agora o faço,
para desabafar ao papel,
esse monólogo da flagelação.
Infelizmente, não me compreendem,
nem mesmo quando faço o sacrifício da solidão,
isolamento necessário à introspecção.
Os que me perseguem
não conseguem nem mesmo explicar seus motivos,
o que me faz acreditar,
como agora me ocorre
(nessa fria madrugada de julho,
quando o tambor da tosse
marca a cadência da doença, da aflição
e da destruição da carne)
que, mais uma vez,
eles não sabem o que fazem.
Por isso,
através da Tua Santa Sabedoria,
tento chegar aO Pai,
para implorar,
que os perdoe,
pois não ultrapassaram ainda
a desprezível condição de sanguinários carrascos,
que precisam milenarmente
crucificar cristos anônimos,
filhos do povo,
Teus irmãos em espírito,
filhos do Mesmo Pai
que por milagre Te gerou.
Filhos,
todos eles diferentes destas bestas sem juízo,
loucas, enraivecidas, ensandecidas,
muito bem produzidas, bem maquiadas,
que se escondem sob os mantos de cordeiros.

(Baby Espíndola)
Madrugada de 09/07/97.

Nenhum comentário:

Postar um comentário